sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma escola viva

Conheça uma instituição pública de ensino que encoraja os alunos a trilharem seus próprios caminhos, dando a eles mais autonomia e liberdade de expressão.

"Antes de me mudar para cá, minha mãe falou que a escola era bem diferente. Disse que não tinha classe, não se usava lousa e as matérias eram dadas juntas. Achei estranho demais!", fala a cearense Alice Magalhães Ribeiro, de 13 anos, aluna do 8º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, localizada no bairro do Butantã, em São Paulo. Assim como ela, quem chega à escola sente, de imediato, espanto e curiosidade. Lá, tanto a metodologia pedagógica quanto a estrutura física e as instalações são bem diferentes das instituições públicas de ensino do país, geralmente precárias e com um ensino desinteressante.

Essas mudanças de conceito, estrutura e pedagogia foram inspiradas no projeto pedagógico Fazer a Ponte, da Escola da Ponte, na cidade do Porto, em Portugal. Referência na área da educação, a escola propõe uma formação mais autônoma para os alunos, que aprendem a ser responsáveis e comprometidos tanto com seus estudos quanto com uma uma sociedade mais participativa e coletiva. E não é só isso. Em 2002, dois anos antes da implementação do projeto, uma pesquisa levantou os principais problemas daquele universo escolar.

Dentre eles estavam indisciplina, alto índice de evasão de alunos, aulas vagas devido à elevada ausência de professores. Sem contar que, quando se iniciou uma discussão mais profunda sobre o projeto pedagógico, ficou claro que o pouco do que ali se propunha não estava sendo realizado na prática. Foi nesse momento que o projeto português, apresentado pela psicóloga Rosely Sayão - interlocutora da escola desde 2001 -, veio ao encontro dos valores da instituição e do desejo dos pais. Dessa forma, ele foi incorporado em todas as classes em 2006. Só para ter uma ideia da amplitude da mudança, no primeiro e no segundo andares do prédio da escola, as paredes que dividiam algumas classes foram derrubadas e, em vez de uma sala de aula para cada turma, há dois salões de estudos, um para o chamado ciclo 1 (do 1º ao 5º ano) e outro para o ciclo 2 (do 6º ao 9º ano). Nessa mudança, o quadro-negro permaneceu, mas não exerce nenhuma função, já que não há exposição de conteúdo das disciplinas - exceto inglês, português e matemática, dadas em outras salas menores. Isso porque as disciplinas exigidas pela grade curricular do Ministério da Educação (MEC) são interligadas e ensinadas por meio dos Roteiros Temáticos, compostos (em média) de 20 temas dados ao longo do ano. Por exemplo, o tema Moradia abrange as matérias de geografia e história; já Juventude e Leitura inclui português, ciências, geografia e matemática.

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 Alunos participam ativamente de todas as atividades da escola, inclusive da panfletagem de avisos das reuniões com os pais

Essa pesquisa temática é feita em grupos de até cinco estudantes, todos da mesma série. "Quando a gente pega o roteiro, abrimos uma roda de discussão para entendê-lo. Conversamos com os colegas e professores até ficar claro. Só depois é que iniciamos o trabalho", explica a aluna Alice Ribeiro. Não há uma ordem para fazê-lo, cada aluno escolhe por onde irá começar. "Além dessa liberdade, eles fazem todo o planejamento de estudo, e só chamam o professor quando precisam de ajuda para organizar a agenda ou tirar dúvidas", diz a diretora, Ana Elisa Siqueira. A escola também não tem provas. "No final de cada roteiro as crianças fazem uma ficha de finalização a respeito das atividades realizadas", conta Ana Elisa. Cada trabalho é avaliado pelo professor para saber tudo que o aluno desenvolveu. E, ao final do semestre, um relatório geral feito pelo educador é entregue aos pais.

O PAPEL DO PROFESSOR
Nesse clima de liberdade, vira e mexe impera entre os docentes a dúvida de qual seria o papel deles. "Não há uma receita bem definida como na escola tradicional, em que você chega, sabe o que vai dar, o que tem de fazer e vai embora. Aqui o aluno é quem o convida a ensiná-lo", fala a professora Cleide Maria de Oliveira Portes, que está há oito anos na escola. Aos poucos, os educadores vão encontrando seu lugar. "Dentro desses espaços, somos responsáveis por todos os estudantes. Devemos estar prontos para qualquer chamado ou solicitação, a fim de tirar todas as dúvidas possíveis", fala a professora veterana.

 Publicado Originalmente em:

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/educacao/instituicao-publica-ensino-alunos-autonomia-liberdade-expressao-692454.shtml

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