sexta-feira, 24 de agosto de 2012

HISTÓRIA DE ALGUNS HERÓIS E HEROÍNAS DE CUIABÁ

Coletânia compartilhada pelo Prof.º Gonçalo.

       "O verdadeiro heroísmo está em transformar os desejos em realidades, e as idéias em feitos. " (Alfonso Rodríguez Castelao) 
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          Conheça algumas personalidades que se destacaram e influenciaram a história Mato grossense... 
“Toda cidade tem seus tipos, Cuiabá também os tem. Uma cidade sem eles, vive cheia de ninguém...”  (Letra de: Moisés Martins)

Tereza de Benguela
         Carro alegórico na Marquês de Sapucaí com a representação de Tereza de Benguela, a rainha do Quilombo do Piolho ou Quariterê

          Tereza de Benguela foi uma liderança quilombola que viveu no século XVIII. Mulher de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso. Quando seu marido morreu, Tereza assumiu o comando daquela comunidade quilombola, revelando-se uma líder ainda mais implacável e obstinada.
          Valente e guerreira ela comandou o Quilombo do Quariterê, este cresceu tanto sob seu comando que chegou a agregar índios bolivianos e brasileiros. Isso incomodou muito as autoridades das Coroas, espanhola e portuguesa. A Coroa Portuguesa, junto à elite local agiu rápido e enviou uma bandeira de alto poder de fogo para eliminar os quilombolas. Tereza de Benguela foi presa. Não se submetendo a situação de escravizada, suicidou-se.
ZÉ BOLO FLÔ
Pintura de Dalva de Barros, 1989

      Muitos que viveram em Cuiabá nos anos 60 e 70 conheceram Zé andarilho, Zé meio louco, Zé poeta, Zé do saco e que ficou imortalizado como Zé Bolo Flor. De família pobre, morador do Baú, moreno de cabelos crespos, estatura mediana, tinha o jeitão simples e alegre do povo humilde de Cuiabá, sem estudo, mas de uma veia poética que produzia prosas e poesias, e que muitas vezes já nascia com musicalidade, letras que ficaram perdidas no tempo, sem registro.
      Seu “pen-drive”era um saco de estopa que usava para guardar seus escritos, poesias simples, mas que retratava as pessoas e os momentos vividos da nossa velha Cuiabá. Não existe uma história sobre sua vida, mas virou uma figura folclórica e mística pela invenção das estórias populares, dizem que dezenas de músicas são de sua autoria, creditam a ele, a composição da letra “A LUA”, muito conhecida por aqui e que foi gravada por Zezé de Camargo e Luciano.
          Nesta foto de Zé Bolo Flor ele carrega um santo pois sempre aconselhou os cuiabanos a andarem pela cidade com um santo nas mãos para se protegerem contra prefeitos daqui.

 
         Muito religioso era visto nas festas de Santos na Igreja de São Benedito, sempre acompanhava as esmolas do Senhor Divino, saía no meio da bandinha que tocava o hino e os rasqueados cuiabanos. Seguindo a bandeira e a coroa do Santo de casa em casa, sem tomar parte diretamente, pois era considerado meio louco e às vezes mal vestido, mas sempre ali, ao seu modo como presença obrigatória.
        Nos anos 70 no seu fim da vida, perambulava pelas ruas do centro de Cuiabá, vestindo calça amarrada pelos cordões em forma de cinturão, às vezes vestindo um terno velho doado por alguém, carregando seu saco que guardava roupas velhas e suas letras poéticas, trazia embaixo dos braços uma lata para guardar restos de pão seco, ficou louco e foi internado no Hospital Adauto Botelho vindo a falecer abandonado como indigente.

Maria Taquara
Escultura Rosylene Pinto

          Na década de 40 viveu em Cuiabá uma mulher que apelidaram-na de Maria Taquara, isto porque ela era muito alta e magra. Vivia de lavar roupas para algumas famílias. Ela ficou famosa em Cuiabá porque era muito corajosa. Foi a primeira mulher a usar uma calça comprida.


   Tinhosa, sisuda, esperta, suja, maltrapilha, negra, espantosa e desembaraçada. Qualificativos ou não, estes são alguns dos adjetivos que a história cuiabana tratou de injetar em Maria Taquara. Foi o biótipo, alta e magra, que lhe rendeu o apelido de Taquara. Ela residia mais precisamente nos fundos do 44° Batalhão do Exército. Nesse período, as más línguas contam que Maria Taquara não rejeitava o carinho dos aspirantes ao Exército. Desta constatação, ela ficou assim denominada: "de dia Maria Taquara e, de noite, Maria meu bem".
 
 Não se tem notícia que rumo tomou Maria Taquara, o fato é que ela ficou muito querida no coração dos cuiabanos.
 Escultura de Haroldo Tenuta


Jejé de Oyá 
José Jacinto Siqueira de Arruda



Com o seu jeito desbocado, Jejé de Oyá que, na verdade nasceu José Jacinto Siqueira de Arruda, ganhou respeito e admiração da capital. Cuiabano por adoção, Jejé nasceu em Rosário Oeste, mas mudou-se para Cuiabá ainda criança e passou a morar no bairro da Boa Morte onde vive até hoje por intermédio de uma tradicional família da cidade. Jejé estudou alfaiataria na Escola Profissional Salesiana, hoje Colégio São Gonçalo, chegou a pensar em ser padre mas, não seguiu o sarcedócio.


Com o seu jeito desbocado, Jejé de Oyá que, na verdade nasceu José Jacinto Siqueira de Arruda, ganhou respeito e admiração da capital. Cuiabano por adoção, Jejé nasceu em Rosário Oeste, mas mudou-se para Cuiabá ainda criança e passou a morar no bairro da Boa Morte onde vive até hoje por intermédio de uma tradicional família da cidade. Jejé estudou alfaiataria na Escola Profissional Salesiana, hoje Colégio São Gonçalo, chegou a pensar em ser padre mas, não seguiu o sarcedócio.
Negro, pobre e homossexual, Jejé freqüentou os grandes bailes nos clubes populares da capital, num deles chegou a ser discriminado por causa da sua cor, já que na época, ser negro significava ter um "espaço" limitado na sociedade. Decidiu então a escrever sobre o que via e o que ouvia nas festas. Foi assim que nasceu o colunista Jejé, dono de um estilo áspero e desbocado. Com seu jeito irreverente de vestir, Jejé de Oyá conquistou seu espaço e se tornou figura referencial em Cuiabá. Sua presença é indispensável nos bailes de gala, nas madrugadas e onde quer que haja alegria.

Mãe Bonifácia

Negra, parteira e curandeira. Estes era alguns dos atributos dados à Mãe Bonifácia. A velha senhora residia em uma mata densa localizada as margens de um córrego situado nas proximidades da estrada que dava acesso as Vilas de Nossa Senhora da Guia, Brotas e Diamantino. A mata era um reduto de escravos foragidos que Mãe Bonifácia acolhia, zelava e dava conforto num momento de desalento. Muito requisitada pelas suas práticas de curandeirismo, Mãe Bonifácia continuou a morar no local, mesmo após a abolição da escravatura até sua morte. Em dezembro de 2000, o antigo refúgio de Mãe Bonifácia virou um Parque, que levou seu nome em sua homenagem.
 
Doninha do Caeté

Doninha do Tanque Novo e o marido José Odário Nunes posam para fotografia com os devotos de Maria da Verdade, no início dos anos 30

Foi nesta região, precisamente em uma localidade denominada de Tanque Novo, onde residiu a família Lacerda e Cintra que, com inúmeros filhos, vivia modestamente da agricultura e da criação de animais, porem sem miséria. A nona filha do casal, chamada de Laurinda Lacerda Cintra, mais conhecida como Doninha, em 1931, aos 22 anos de idade, mãe de 2 filhos e grávida de um terceiro, começou a Ter visões de uma Santa, inicialmente chamada de "Maria Da Verdade" e, que posteriormente passou a se chamar "Jesus Maria José". A partir dessas aparições, Doninha passou a ser solicitada, uma vez que a Santa, não só lhe aconselhava sobre doenças mas também fazia algumas previsões sobre o futuro.
 Após uma série de curas, as quais originaram romaria, a região de Tanque Novo tomou outra paisagem, de um arraial pacato, transformou-se numa pequena vila, relativamente populosa, pois muitos que procuravam Doninha, passaram a residir ali. Devido a sua grande influencia com o povo, em um período de grandes conflitos políticos houve se muitos boatos que incriminavam  Doninha e entre ataques e fugas ela foi presa. O julgamento de Doninha foi objeto de polêmica, pois seu advogado, considerava que o crime era de natureza política, devendo por isso ser julgado pela Justiça Federal. O juiz estadual, no entanto classificou a ocorrência como crime comum, devendo o processo ser julgado em Cuiabá.
Doninha aguardou o resultado do julgamento presa, o que ocorreu em agosto de 1934, tendo sido libertada todos os outros indiciados. Ao final, ela foi considerada inocente, porém isso só veio acontecer, depois que as novas eleições foram realizadas e a vitória do Partido da Aliança Liberal ficou garantida, inclusive no município de Poconé.
Quando o inventário do pai de Doninha foi aberto, coube a ela como herança, uma parte de Tanque Novo, lugar afastado o qual batizou de Caeté. Ali Doninha continuou recebendo pessoas que a procuravam, porém, sentia-se ameaçada e discriminada. Assim ela e a família mudaram-se para Cáceres, local em que permaneceu por pouco tempo, tendo retornado para Caeté onde fixou residência e continuou suas atividades até a sua morte natural ocorrida em 1974.

Antonio Peteté

 Antonio Espírito Santo
 
Entre as décadas de 60 e 70, um homem teve um jeito peculiar de demarcar seu território no centro de Cuiabá. Num tempo que ainda não se falava das Ilhas de calor, Antonio Espírito Santo, mais conhecido como Antonio Peteté, caminhava pelas ruas com seu abanico na mão.

Guardo nas minhas lembranças a sua imagem na prainha, na rua de baixo, rua do meio e na 13 de Junho sentado nas portas das lojas. Naquela época a prainha era um córrego aberto e Peteté fazia dela a sua passarela.
Mesmo manco, andava de um lado pra outro sem perder a pose. Ostentava sua habilidade em movimentar com rapidez seu charmoso  leque. Antônio, como Zé Bolo Flor, também era devoto fervoroso nas procissões. Nesses momentos os acessórios eram outros. Entravam em cena, o terço e o livro de catecismo. A sua fé resistia em íntima comunhão com sua condição de homem negro, pobre e andarilho. Dizia que não gostava dos alunos de uma determinada escola da capital, porque não eram educados, mas gostava dos alunos de um outro colégio da cidade. 
       “Só dosto de menino do tolégio dos padres”, proclamava em alto som em sua língua presa.
Antônio Peteté - Letra de: Moisés Martins.
       Manquetolava e dizia:
“só dosto de menino do Tolégio   
      Antonio Peteté, Peteté, Peteté, Peteté.
Qual Chapa e cruz que consegue não lembrar.
Da vida boa da velha Cuiabá,
Que nem o tempo consegue apagá.
        Qué sabê o que tenho pro cês;
Senta aqui arrodeia três vez.

Além dos heróis e heroínas citados anteriormente, existiram também:
 
 ●Tufica : Costumava contar histórias as crianças que dirigiam-se ao cine teatro Cuiabá, onde era sempre encontrado, estendendo o seu chapéu objetivando pequenas contribuições financeiras.
     ● Michidinha : fanático torcedor do Dom Bosco que ia aos jogos com as cores do clube, detalhes azul e branco no vestuário e costumava requebrar ao escutar o seu apelido. 
● Juvenal Capador: figura popular que quando chamado pelo apelido, se irritava e ameaçava as pessoas.
● Plínio Rait: simpático garçom que trajava-se impecavelmente e costumava cumprimentar as pessoas com a expressão “ o rait “ .
●João Cuíca : ator principal das peças dirigidas pelo Pe. Pombo no colégio dos padres ( São Gonçalo ) e durante a sua vida sempre festejou o seu tradicional “ São João de João Cuíca “.
● Maria perna grossa: famosa cartomante e benzedeira que tinha esse apelido por sofrer de elefantíase.
● Chico Alicate: Lunático que criou uma mulher fantasia em seu consciente 
de nome “Lourdes “ e costumava se deslocar para qualquer ponto da cidade quando
recebia informações de que “Lourdes ” encontrava-se em determinado local.
● Guaporé : figura popular de pequena estatura que era sempre encontrado
sentado à porta da antiga agência do banco do Brasil com um cigarro a boca (palheiro),
era guarda noturno do antigo hotel Pércora e costumava informar as moças sobre os
aviadores viajantes que chegava a cidade.


HEROÍS DA ATUALIDADE NA ARTE MATOGROSSENSE

LIU ARRUDA


Liu Arruda é na verdade Elonil de Arruda, jornalista, comediante e músico.

Cuiabano, nasceu em 30 de maio de 1957, filho de Nilson Arruda e Tanita Marques de Pinho Arruda.Herdou da mãe o  interesse pelo teatro e desde a década de 80 é o mais popular ator do Estado.
A primeira apresentação aconteceu em 1968, no Colégio São Gonçalo. A partir daí mostrou que teatro não seria apenas uma brincadeira.
O artista também trabalhou por 10 anos como professor no colégio Pernalonga, em Cuiabá, dando aulas de Educação Artística, Teatro e Redação. Foi ainda repórter da TV Centro América, filiada da Rede Globo na capital mato-grossense, por um curto período. 
Liu Arruda era sistemático e extremamente profissional em todos os seus trabalhos. Como sofria de insônia, grande parte de seus projetos eram elaborados durante a madrugada. 
O ator fez muito sucesso quando foi garoto propaganda do antigo supermercado Trento Junior. Liu também participou das novelas O Campeão, da TV Bandeirantes e A Lenda, da extinta TV Manchete. Também fez uma breve participação na novela da TV Globo, Suave Veneno.
O humor de Liu valorizava o linguajar cuiabano, que era expresso numa mistura de irreverência com pureza, mas sem traço de vulgaridade,um de seus maiores sucessos foi a personagem “Comadre Nhara”. Liu Arruda morreu no dia 24 de outubro de 1999, com 42 anos.

NICO E LAU


Nico e Lau foram criados em 1995 pelos atores Lioniê Vitório e J. Astrevo após mais de uma década de carreira artística atuando em teatro.

Lioniê Vitório (Nico) 39 anos, mato-grossense de Santo Antônio de Leverger. Formado em Artes pela Unic e Pós–Graduado em Patrimônio Cultural. Foi Secretário de Cultura, Vereador, Vice Prefeito e Prefeito interino do seu município. Como ator começou em 1986 no Grupo Ânima de Teatro na antiga Escola Técnica, hoje IFE-MT.

Justino Astrevo de Aguiar (Lau) 44 anos, cuiabano. Formado em Letras pela UFMT, Pós Graduado em Planejamento e Gestão Cultural pela Unic. Autor, Diretor e Ator, foi Secretário de Cultura de Cuiabá e Professor Universitário. Começou sua carreira artística em 1980 quando fundou a Cia Folhas Produções.
Em 1989 Vitório recebeu convite do diretor J. Astrevo para participar do espetáculo ÚLTIMO BAILE DE VERÃO de sua autoria. A parceria deu certa e desde então Lioniê e Astrevo passaram a atuar juntos em diversos espetáculos teatrais.


Referências Bibliográficas
 

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Engraçado Antonio Petété é famoso, mas existem pessoas que fizeram historia em Cuiabá e não são citados em nenhum site ou mesmo museus, como Dona Francisca com seus quitutes e seu Maneco do Bar Bandeirantes no Porto, precisamente na Rua 15 de Novembro em frente ao cine são Luiz e ao lado da Dona Arinda que Também Tocava seu piano maravilhosamente.

Unknown disse...

Mais engraçado é ver sempre reclamações... Mas ir atrás e criar suas próprias informações... ninguém cria =/

História do Bairro Morro do Tambor/Dom Aquino disse...

Sou cuiabano de tchapa e tcruz e tenho 58 anos, parabéns João Batista, pelas lembranças de pessoas que fizeram parte de nossa infância, adolescência e mocidade. Eu me também de Zé Vieira, mentiroso igual Tuffica e que também vivia ali pelo centro, e Cobra Fumana, General Saco, Macaco e Pau oco e Shá Onça lá do Dom Aquino, para completar essa sua galeria, que você foi muito feliz e elaborar.

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